sexta-feira, 22 de junho de 2012


O FUTURO QUE NÓS QUEREMOS


A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, encerrou nesta sexta-feira (22), por volta das 15h, com a divulgação do documento final, contendo 49 páginas, denominado O Futuro Que Queremos. O balanço dos dez dias de discussões divide opiniões. Autoridades brasileiras consideram um avanço a inclusão do desenvolvimento sustentável com erradicação da pobreza, enquanto movimentos sociais e alguns líderes estrangeiros condenam a falta de ousadia do texto.

O chefe da delegação do Brasil na Rio+20, embaixador André Corrêa do Lago, reiterou que o saldo da conferência é positivo. “O principal saldo foi fazer com que o desenvolvimento sustentável se transforme em paradigma em todos seus aspectos - social, ambiental e econômico”, disse.

Porém, para as ONGs, faltou ousadia por parte das autoridades na exigência de definições claras sobre responsabilidades específicas, repasses financeiros, discriminação de prazos para a adoção de medidas e a ampliação de poderes do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma).

As discussões mostraram ainda que as divergências econômicas estão presentes também nos debates polítcos e ambientais. Os negociadores dos países desenvolvidos e em desenvolvimento entraram em vários conflitos, principalmente os que envolviam recursos. A União Africana (formada por 54 países) foi um dos blocos que mais reagiram às restrições impostas pelos países desenvolvidos.

“Não há um grupo de negociadores que tenha admitido ganhar em tudo. O Brasil conduziu muito bem os temas divergentes. Depois, chegamos a um acordo e agora temos um caminho. Mas o documento ainda é muito grande”, disse o ministro do Desenvolvimento, Economia Florestal e Meio Ambiente do Congo, Henri Djombo.

O documento, tem 49 páginas, menos uma em relação à versão anterior, sendo que inicialmente o texto chegou a ter 200 páginas. O documento está dividido em seis capítulos e 283 itens. Os capítulos mais relevantes são os que tratam de financiamentos e meios de implementação (relacionados às metas e compromissos que devem ser cumpridos).

VINTE ANOS DEPOIS...
 
Severn Suzuki
20 anos depois do discurso que marcou a Rio 92, a canadense diz esperar que dessa vez a sociedade civil consiga se organizar para tomar as rédeas do que está por vir .
 
— Não é só meio ambiente, é nossa forma de viver. Com 12 anos, eu achava que se eu falasse aos grandes líderes, eles poderiam levantar e resolver tudo. Afinal, não eram eles os mais poderosos do mundo? Hoje sei que não, que eles estão subordinados a muitas relações de poder. Quem tem que levantar e começar as mudanças somos nós. Sou eu, é você.

Severn acredita em mudanças locais, e na formação de redes pela própria sociedade civil, para que se possa criar massa crítica e agir em direção ao desenvolvimento sustentável. Aos 32 anos, com com um filho de dois aninhos e um bebê de quase três meses, ela trabalha a maior parte do tempo em casa, sai para gravar o programa de televisão local que apresenta, sobre sustentabilidade, e fica com os dois o máximo de tempo que pode. Mora com eles e o marido na ilha de Queen Charlotte, ao Norte do Canadá, numa vila que só tem mil habitantes. É ali o próprio laboratório de Severn, hoje mestra em Biologia Evolutiva e com os olhos voltados para os ecossistemas e as possibilidades de vida mais sustentáveis.

— Fui num seminário preparatório para a Rio+20 e o foco era a crise do euro! A economia verde não é uma salvação para o euro. É uma lógica diferente de vida. De forma global, temos que pensar em formas de medir qualidade de vida, para além do Produto Interno Bruto (PIB). E no plano local, temos que olhar as necessidades que nosso modelo de vida impõe. Me preocupam casos como o da construção da hidrelétrica de Belo Monte no rio Xingu no Estado do Pará, onde, para possibilitar mais consumo de energia, admite-se um impacto imenso no ambiente e na sociedade. Vale a pena? — questionou Severn.

Em 1992, Severn pediu aos líderes que fizessem algo para reduzir o impacto ambiental causado, diminuir desigualdades e erradicar a fome. Citou a África, onde crianças com os mesmos 12 anos dela poderiam estar trabalhando, ou passando fome.

Vinte anos depois, uma notícia boa é o fato de a camada de ozônio ter virado anacronismo do discurso. Com o alarde gerado, houve intensa redução na emissão de CFCse o problema saiu da urgência.

Emergiram, porém, as mudanças climáticas e as previsões do IPCC de aumento de até 4º C até o fim do século, o que fez alguns países se mexerem, e começarem iniciativas, repensando, por exemplo, legislações ambientais e limitando emissões. Mas, por outro lado, crianças africanas que à época tinham a mesma idade de Severn, aos 32 anos estão se aproximando da expectativa de vida em seus países.



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